terça-feira, 18 de outubro de 2011

Esperança no semiárido


Em Umirim, a água de qualidade chega às famílias pelas cisternas de placas instaladas nas comunidades (Sara Maia)


Quando a chuva é boa, enche a cisterna por mais de um ano. O problema aparece quando nem toda família da comunidade tem um reservatório sem rachaduras. Aí uma cisterna chega a atender mais de dez famílias. E quando acaba água limpa da chuva, haja água de açude e carro-pipa. Cisternas são esperança e sonho dos que ainda não têm

Por mais de 30 anos, dona Josefa Pinto da Silva, 69, só tinha água em casa quando percorria as secas veredas de Caiana até um distante e pequeno açude. Com baldes d’água na cabeça e nas mãos, a senhora conseguia o de beber para ela e a família. A situação melhorou em 2005, quando dona Josefa foi beneficiada com a construção de uma cisterna.


Em Umirim, a 205 quilômetros de Fortaleza, um dos primeiros reservatórios construído é o que está em frente à casa de dona Josefa. Mas por ali e todas as veredas percorridas pela equipe do O POVO em localidades e distritos da Região Norte do Ceará, as construções brancas são abundantes, contrastando com a paisagem pálida do semiárido. Para muitas famílias, as cisternas são a garantia de água quando a chuva para, mas a sede não.

“Antes era muito triste. A gente ia pro açude lá em baixo e voltava com o balde na cabeça. Agora quando o inverno é bom, tem água o ano todo”, diz dona Josefa. A água está durando graças aos cuidados da aposentada. “Eu uso ela pra cozinhar, beber. Em dezembro, vou mandar pintar de novo de branco”, cita.

Na rodovia que corta Miraíma, as cisternas do agricultor Gerre Manuel Mota, 40, chamam a atenção. Na propriedade dele, na localidade de Amontada Velha, são dois os reservatórios. Um é para água de beber e a outra “de comer”. A segunda cisterna erguida no quintal é a garantia de plantações promissoras. Do tipo “calçadão”, o reservatório acumula até 52 mil litros d’água que escorrem por uma calçada de concreto e ficam armazenados para aguar as plantas. “Tinha época que nem água pras galinhas tinha. Em épocas ruins de estiagem seca tudo e a gente sofre. Só em ter água já é melhor”, reconhece. 
Sonho

Água, Ana Maria Abreu da Silva, 52, tem. Não é água de qualidade, mas é o que garante o banho de todos os dias e o plantio. A água que chega à casa da dona de casa, em Caiana, localidade de Umirim, vem de um açude distante da propriedade e chega com certa inconstância. A de beber, ela conta, é emprestada da cisterna do vizinho.

O sonho da dona de casa é ter água guardada em uma cisterna própria, na porta de casa. Porque a trazida do açude e guardada em tosco tanque no lado de casa só dá cozinhar quando coada. Mensalmente, são R$ 11 pagos ao proprietário do açude para receber a água. “Mas tem dia que vem, semana que não vem. Tem vezes que a gente passa 15 dias sem água. Semana passada não veio um pingo”, lamenta, pedindo uma cisterna à repórter e à fotógrafa do O POVO. “Com ela você passa o ano todinho com água”, justifica o desejo.

Acompanhe a série
Desde a edição de ontem, O POVO está mostrando a situação de comunidades do semiárido cearense que não têm fácil acesso a água. Ontem, mostramos que a Operação Pipa corre risco de ser interrompida por falta de recursos. Amanhã, as ações do Governo do Estado para garantir água potável serão destaque na série.

Mariana Lazari
marianalazari@opovo.com.br

Fonte O Povo

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