terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fundação que aplicou pré-teste é investigada pela PF

Alunos fizeram protesto ontem em Fortaleza (FOTO: DEIVYSON TEIXEIRA)Alunos fizeram protesto ontem em Fortaleza (FOTO: DEIVYSON TEIXEIRA)
Responsável pela aplicação dos pré-testes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2011 em todo o Brasil, a Fundação Cesgranrio também é alvo de investigação da Polícia Federal. A PF apura como 14 questões de dois dos 32 cadernos das prévias foram parar em apostilas do colégio Christus e, segundo o Ministério da Educação (MEC), beneficiado pelo menos 639 alunos da instituição.

A informação foi repassada ao O POVO pela assessoria do MEC, logo após a presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Professor Anísio Teixeira (Inep), Malvina Tuttman, conceder entrevista coletiva em Fortaleza sobre o caso. O Inep é quem coordena o exame.

Segundo o MEC, um dos pontos investigados é a quantidade e a origem dos fiscais nas salas onde foram aplicados os pré-testes. Em todo o Brasil, mais de mil escolas participaram das prévias em outubro do ano passado. O número do Ceará não foi divulgado.

Os fiscais deveriam estar em grupos de três e não poderiam pertencer ao corpo funcional da instituição para a qual foram indicados. Conforme o Ministério, esse é um dos critérios em análise. “Isso está no plano de trabalho que é assinado e desenvolvido. E os fiscais são escolhidos pela Cesgranrio com base em critérios”, citou Tuttman.

O próprio MEC diz estar na linha de frente dessas apurações. Se ficar comprovado o envolvimento do colégio no caso, o Ministério garante processos civis e criminais contra os diretores do colégio.
 
Um mês de sigilo

Na PF de Brasília, o inquérito aberto semana passada segue em segredo de Justiça, com o prazo de término previsto para 30 dias. Por isso, a entidade não confirma se a Fundação está, de fato, no foco das inspeções. “Mas a Polícia está agilizando os seus procedimentos”, pondera a presidente do Inep.

Para ontem, estavam previstos depoimentos de membros da diretoria do Christus à Polícia, que também tenta ouvir um professor do colégio acusado de guardar os dois cadernos de pré-testes durante um ano e distribuí-los dez dias antes da prova. “Houve, sim, um trabalho exitoso, desde a elaboração das provas até a logística de distribuição. Tudo não se concentra em o Enem dar certo. Porque ele tem dado certo. A questão é que valores as nossas escolas estão passando aos nossos alunos; é o posicionamento ético diante da vida”, ponderou Malvina Tuttman.

Procurada pelo O POVO por três vezes na tarde de ontem, a Fundação Cesgranrio disse, a princípio, que não se pronunciaria sobre o assunto. Em seguida, solicitou envio da demanda por e-mail para avaliar a possibilidade de uma resposta. Até o fechamento desta edição, porém, não retornou nem atendeu às ligações da reportagem.

Entenda o caso

O Enem 2011 foi realizado nos dias 22 e 23 de outubro. No primeiro dia, os candidatos responderam a provas de ciências humanas e suas tecnologias e ciências da natureza e suas tecnologias. No segundo dia, fizeram as provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias e redação.
 
Em todo o Brasil, mais de cinco milhões de inscrições. No Ceará, foram 118 mil.
 
Na terça-feira subsequente ao Exame, dia 25, começaram a circular em redes sociais imagens de questões de apostilas com itens iguais ou similares aos do Enem. O material era atribuído ao Christus.
 
Na quarta-feira , 26, o Inep cancelou a prova dos 639 alunos do Christus. Polícia Federal é acionada e abre inquérito para investigar como os estudantes tiveram acesso às questões. Colégio alegava que itens faziam parte do banco de questões formado com a colaboração de alunos e professores.
 
Na quinta-feira, 27, o MEC confirma que questões vazadas eram de pré-teste aplicado um ano antes no Christus. MPF pede anulação de todas as provas ou de 13 questões nacionalmente.
 
Na sexta-feira, 28, Justiça dá 72 horas para Inep apresentar defesa à ação. Cúpula do Inep decide vir ao Ceará na segunda para pedir o cancelamento só dos alunos do colégio. Jovens protestam pela anulação de 14 questões ou do Enem no Brasil inteiro.
 
Ontem, a Justiça anunciou anulação de 13 questões.
Bruno de Castro 
brunobrito@opovo.com.br

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