Fortaleza acumula 3.535 casos, e concentra 73,3% das ocorrências de todo o Estado. No mesmo período entre os boletins, o salto de casos confirmados na Capital foi de 99%.
A costureira Rosa Maria Cunha, 64, já contabiliza mais de um mês da doença e seis idas a médicos. O repouso inicial dos primeiros 15 dias, contundentemente recomendado, não foi suficiente e, apesar da breve melhora, Rosa sente como se a doenças tivesse “começado toda de novo”. “Eu preciso de ajuda pra tudo, parei as costuras, e não passo um dia sem remédios pra dor”, relata. Na mesma casa, no José Walter, o marido, a filha, o genro e a neta também contraíram chikungunya.
Com 15.605 de casos notificados em todo o Estado, a taxa de incidência dos casos suspeitos é de 1,75 para cada mil pessoas.
Os números, no entanto, passam por subnotificação, conforme acredita o médico infectologista e pediatra Robério Leite. “O vírus encontra uma população completamente vulnerável (ainda não imunizada) e sem o controle necessário do mosquito da Aedes aegypit, ele circula. Sem conseguir disponibilizar exame laboratorial para todos e com sintomas que podem ser confundidos com outras doenças, há muita subnotificação” comenta o médico Robério, e alerta: “Esse números devem ser ainda maiores”.
O boletim desta sexta-feira, 17, confirma, pela primeira vez, mortes causadas pela doença. Os óbitos de um homem e uma mulher de 88 e 89 anos, respectivamente, aconteceram em Fortaleza. Ainda permanecem em investigação 11 óbitos, cinco deles na Capital.
Com febre alta e dores articulares agudas e persistentes como sintomas mais presentes, criou-se a ideia que a doença maltrata, mas não mata - o que tem se mostrado um equívoco. De acordo com Robério, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e médico do Hospital São José, o vírus da febre chikungunya tem menor potencial de morte, se comparado com a dengue.
“A dengue altera muito a capacidade de contenção dos vasos sanguíneos e acontece o extravasamento de líquidos. Mas a chikungunya, quando atinge principalmente os extremos das idades (crianças e idosos), em que um sistema imunológico ainda em desenvolvimento ou outras doenças conjuntas, traz riscos sim”, afirma.
Conforme o boletim da Sesa, a maioria dos casos confirmados ocorreu em adultos, na faixa etária de 41 a 50 anos. O sexo feminino foi predominante em todas as faixas etárias, à exceção dos casos com idades entre 5 e 9 anos e mais de 80 anos. Dos 11 óbitos que permanecem em investigação, cinco são homens e seis mulheres, com idades compreendidas entre 27 dias e 81 anos.
Cuidados e sintomas
As dores articulares são o maior incômodo de quem é infectado pelo vírus. O tempo que as inflamações permanecem assusta e maltrata. “Em geral, entre duas e três semanas a doenças tem os sintomas diminuídos. Algumas permanecem por mais tempo e existe um pequeno número de casos de pessoas que acabam com uma doença articular crônica, semelhante a artrites”, elucida o médico, e que alerta para que no período agudo da doença o repouso seja absoluto e anti-inflamatórios e corticóides não sejam tomados pelo paciente.
Febre alta e manchas vermelhas no corpo são outros sintomas comuns. No caso de crianças, dores nos pés e nãos mãos, além de erupções cutâneas, e irritabilidade, detalha Robério.
Interior
De acordo com o boletim da Sesa, 151 municípios do Estado já notificaram casos suspeitos e em 60 deles já houve confirmações. Os municípios de Hidrolândia e Campos Sales destacam-se, com incidência de casos suspeitos acima de 2 mil por 100 mil habitantes, e Nova Russas, Crateús, Pentecoste, Quixadá, São Luís do Curu e Varjota com incidência acima de 1 mil casos por 100 mil habitantes. Os municípios de Campos Sales, Assaré e Nova Russas apresentaram as maiores incidências de casos confirmados no Estado, com 1.268, 601 e 364 casos por 100 mil habitantes, respectivamente.
A manicure Fátima Vanderley, 47, mora em Campos Sales e sofre com os sintomas da doença há dois meses. As dores nas “juntas inchadas” a impedem diariamente de desempenhar seu trabalho. A situação, que também chegou ao filho dela, não se restringe à família. “Aqui em Campos Sales você olha na rua e está todo mundo caxingando e é tudo com dor nas juntas por causa dessa chikungunya”, conta, afirmando conhecer casos de pelos menos cinco idosos que morreram e que a causa poderia ser a febre chikungunya.
Em Hidrolândia, a alta incidência é confirmada pelo garçom Marcos Sampaio, 39. Há um mês com sintomas persistentes e ainda tomando remédio para as dores nos cotovelos e nos pés, Marcos conta que é difícil um lar que não tenha tido alguém com chikungunya. “Hidrolândia inteira tá assim, se for ver uns 90% da cidade com a doença”, acredita.
O Povo
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