sábado, 18 de junho de 2016

Casos confirmados de chikungunya dobram no Ceará e em Fortaleza

O Ceará mais que dobrou o número de confirmações de febre chikungunya no intervalo de 15 dias entre as divulgações dos boletins epidemiológicos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). Os números confirmados da doença passaram de 2.234 para 4.821 - o que representa um aumento 115,8%. Outros 9.058 casos seguem sendo investigados.

Fortaleza acumula 3.535 casos, e concentra 73,3% das ocorrências de todo o Estado. No mesmo período entre os boletins, o salto de casos confirmados na Capital foi de 99%.

A costureira Rosa Maria Cunha, 64, já contabiliza mais de um mês da doença e seis idas a médicos. O repouso inicial dos primeiros 15 dias, contundentemente recomendado, não foi suficiente e, apesar da breve melhora, Rosa sente como se a doenças tivesse “começado toda de novo”. “Eu preciso de ajuda pra tudo, parei as costuras, e não passo um dia sem remédios pra dor”, relata. Na mesma casa, no José Walter, o marido, a filha, o genro e a neta também contraíram chikungunya.

Com 15.605 de casos notificados em todo o Estado, a taxa de incidência dos casos suspeitos é de 1,75 para cada mil pessoas.

Os números, no entanto, passam por subnotificação, conforme acredita o médico infectologista e pediatra Robério Leite. “O vírus encontra uma população completamente vulnerável (ainda não imunizada) e sem o controle necessário do mosquito da Aedes aegypit, ele circula. Sem conseguir disponibilizar exame laboratorial para todos e com sintomas que podem ser confundidos com outras doenças, há muita subnotificação” comenta o médico Robério, e alerta: “Esse números devem ser ainda maiores”.

O boletim desta sexta-feira, 17, confirma, pela primeira vez, mortes causadas pela doença. Os óbitos de um homem e uma mulher de 88 e 89 anos, respectivamente, aconteceram em Fortaleza. Ainda permanecem em investigação 11 óbitos, cinco deles na Capital.

Com febre alta e dores articulares agudas e persistentes como sintomas mais presentes, criou-se a ideia que a doença maltrata, mas não mata - o que tem se mostrado um equívoco. De acordo com Robério, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e médico do Hospital São José, o vírus da febre chikungunya tem menor potencial de morte, se comparado com a dengue.

“A dengue altera muito a capacidade de contenção dos vasos sanguíneos e acontece o extravasamento de líquidos. Mas a chikungunya, quando atinge principalmente os extremos das idades (crianças e idosos), em que um sistema imunológico ainda em desenvolvimento ou outras doenças conjuntas, traz riscos sim”, afirma.

Conforme o boletim da Sesa, a maioria dos casos confirmados ocorreu em adultos, na faixa etária de 41 a 50 anos. O sexo feminino foi predominante em todas as faixas etárias, à exceção dos casos com idades entre 5 e 9 anos e mais de 80 anos. Dos 11 óbitos que permanecem em investigação, cinco são homens e seis mulheres, com idades compreendidas entre 27 dias e 81 anos.

Cuidados e sintomas

As dores articulares são o maior incômodo de quem é infectado pelo vírus. O tempo que as inflamações permanecem assusta e maltrata. “Em geral, entre duas e três semanas a doenças tem os sintomas diminuídos. Algumas permanecem por mais tempo e existe um pequeno número de casos de pessoas que acabam com uma doença articular crônica, semelhante a artrites”, elucida o médico, e que alerta para que no período agudo da doença o repouso seja absoluto e anti-inflamatórios e corticóides não sejam tomados pelo paciente.

Febre alta e manchas vermelhas no corpo são outros sintomas comuns. No caso de crianças, dores nos pés e nãos mãos, além de erupções cutâneas, e irritabilidade, detalha Robério.

Interior

De acordo com o boletim da Sesa, 151 municípios do Estado já notificaram casos suspeitos e em 60 deles já houve confirmações. Os municípios de Hidrolândia e Campos Sales destacam-se, com incidência de casos suspeitos acima de 2 mil por 100 mil habitantes, e Nova Russas, Crateús, Pentecoste, Quixadá, São Luís do Curu e Varjota com incidência acima de 1 mil casos por 100 mil habitantes. Os municípios de Campos Sales, Assaré e Nova Russas apresentaram as maiores incidências de casos confirmados no Estado, com 1.268, 601 e 364 casos por 100 mil habitantes, respectivamente.

A manicure Fátima Vanderley, 47, mora em Campos Sales e sofre com os sintomas da doença há dois meses. As dores nas “juntas inchadas” a impedem diariamente de desempenhar seu trabalho. A situação, que também chegou ao filho dela, não se restringe à família. “Aqui em Campos Sales você olha na rua e está todo mundo caxingando e é tudo com dor nas juntas por causa dessa chikungunya”, conta, afirmando conhecer casos de pelos menos cinco idosos que morreram e que a causa poderia ser a febre chikungunya.

Em Hidrolândia, a alta incidência é confirmada pelo garçom Marcos Sampaio, 39. Há um mês com sintomas persistentes e ainda tomando remédio para as dores nos cotovelos e nos pés, Marcos conta que é difícil um lar que não tenha tido alguém com chikungunya. “Hidrolândia inteira tá assim, se for ver uns 90% da cidade com a doença”, acredita.

O Povo

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